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A FOTOGRAFIA EM PORTUGAL (I)

  • Manuel Botelho Costa
  • 2 de nov. de 2021
  • 4 min de leitura

INTRODUÇÃO

O conhecimento em Portugal da invenção da fotografia, é quase simultâneo com a sua divulgação em Paris. Em Março de 1839, a "Revista literária do Porto" transcreve o processo de Talbot, seguido da descoberta de Daguérre.

OS PRINCÍPIOS

Como escreve António Sena, os daguerreotipistas espalharam-se por Portugal na década de 50. Wenceslau Cifka foi um dos primeiros, instalando um estúdio em 1848. Os calotipistas, ao invés, tiveram actividade moderada, sendo Frederick Flower a excepção, com um excelente conjunto de fotografias obtidas no norte, com centro no Porto. Esta situação facilmente se explica, sabendo ter o Estado Francês comprado a patente a Daguérre, ao contrário de Talbot que exigiu o pagamento de direitos pelo uso do seu invento.

EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS

O daguerreotipo surge no Porto

através do pintor João Baptista

Ribeiro e do fotógrafo Miguel Novaes que apresenta um retrato de Alexandre Herculano, na Exposição

de Belas Artes.

O calotipo, pela mão de William Flower surge também no Porto, com levantamento de monumentos e paisagens do norte.

O colódio albuminado seco e o colódio seco foram rapidamente adoptados, pela facilidade que traziam quando comparados com o colódio húmido (desenvolvido por Archer em 1850).

OS VÁRIOS TIPOS DE FOTOGRAFIA

Acompanhando o catálogo da exposição "Tesouros da Fotografia Portuguesa do Séc. XIX" (Emília Tavares e Margarida Medeiros), será possível tentar sistematizar os trabalhos fotográficos, de alguma forma cronologicamente. Os "Retratos", na sequência da pintura, habitual naquela época, foram os primeiros trabalhos a surgir. Seguiu-se "A Fotografia Patrimonial", depois "A Reportagem Fotográfica". Já em pleno Sé. XX, "O Modernismo nos Anos 20" e "A Fotografia no Estado Novo".

Um exemplo de um retrato. Neste caso um auto-retrato de Carlos Relvas, um dos mais importantes fotógrafos portugueses. Na Golegã, sua terra natal mandou construir uma casa-estúdio, única no mundo naquela época.



Carlos Relvas nasceu em 1838 na Golegã, local onde morreu em 1894. Foi lavrador, cavaleiro tauromáquico e fotógrafo. Iniciou-se nesta arte com Wenceslau Cifka em 1860, tendo-se dedicado ao retrato e à fotografia de paisagem.

O INVENTÁRIO PATRIMONIAL foi uma preocupação constante por parte dos pioneiros da fotografia, desde os primeiros daguerreotipos.

O Palácio da Pena, daguerreotipo de Wenceslau Cifka

Wenceslau Cifka nasceu na Boémia em 1811, tendo morrido em Lisboa em 1883. Formado em Agronomia, veio para Portugal como conselheiro artístico de D. Fernando de Saxe-Coburgo. Iniciou-se no daguerreotipo e instalou um dos primeiros estúdios fotográficos em Lisboa, em 1848.

Albumina de Francesco Rocchini, do Mosteiro de Alcobaça. Nascido em Itália (Monte Leone) em 1822, Rocchini instalou-se em Lisboa, fabricando câmaras fotográficas e fotografando. Montou um estúdio em Lisboa, no Largo de São Roque e foi fotógrafo da Casa Real. Recolheu imagens por todo o país e publicou um álbum de albuminas. Faleceu em Lisboa em 1895.




Neste calotipo de William Flower, está representado o Convento da Serra do Pilar.

O processo usava negativos em papel e positivos em papel salgado. Flower é um dos pioneiros da fotografia em Portugal, tendo documentado as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia. Nascido na Escócia em 1815, veio trabalhar para o Porto onde morreu em 1889.



Margens do Rio Zaire - albumina de José da Cunha Moraes.

Nascido em Coimbra em 1855, Cunha Moraes vai para Luanda em 1863 onde o pai tinha um estúdio de fotografia. Vem estudar para Lisboa mas regressa a Luanda onde vai dirigir o estúdio da família. Ao longo de diversas viagens, fotografa paisagens, aspectos etnográficos e construções das colónias portuguesas. Morre no Porto em 1933.

Augusto Bobone nasceu em Lisboa em 1852. Estudou na Academia de Belas Artes e foi discípulo de Alfred Fillon de quem herdou o atelier. Dedicou-se à reprodução de objectos de arte, ao retrato e aos postais ilustrados. Foi fotógrafo da Casa Real. Morreu em Lisboa em 1910.

A Raínha D. Amélia e o Princípe D. Luís Filipe.

Retrato de Augusto Bobone, já no atelier de Fillon.

O Arco da Rua Augusta

Fotografia de Bobone | negativo de gelatina e prata sobre vidro (13cmx18cm)

Aurélio da Paz dos Reis nasceu no Porto em 1862. Proprietário da "Flora Portuense", para além de flores, vende produtos importados incluindo material fotográfico. Começou a fotografar aos 20 anos, tendo-se dedicado à estereoscopia. Foi um dos primeiros foto-repórteres portugueses. Morreu no Porto em 1931. Pode dizer-se que fotografou o fim da monarquia.


Fotografias de Aurélio da Paz dos Reis (exposição do "Porto Íntimo")

Joshua Benoliel nasceu (1873) e morreu (1932) em Lisboa. A par de Paz dos Reis foi um dos primeiros fotojornalistas. Acompanhou a Revolução de 1910 e a I Repúblca, bem como a participação portuguesa na I Grande Guerra.

Lisboa, vendedeira de figos

Lisboa, o leite perigoso

ALGUMAS NOTAS SOBRE OS PROCESSOS FOTOGRÁFICOS

Daguerrótipo

Placa de cobre revestida de prata, sensibilizada com iodo e exposta na câmara. A imagem é latente, só sendo visível após revelação com vapor de iodo.

Papel Salgado

Embebe-se a folha de papel numa solução de cloreto de sódio diluída e depois seca. Fazendo reagir a folha de papel com uma solução de nitrato de prata, forma-se cloreto de prata, tornando a folha de papel sensível à luz. Exposto o papel, a imagem aparece espontaneamente sem necessitar de revelação química (POP - printing-out-papers).

Albumina

O papel de albumina obtinha-se a partir de clara de ovo batida em castelo numa solução de sal saturada. Este papel, depois de seco, não era sensível à luz. Para imprimir era necessário sensibilizar o papel por flutuação, numa solução de nitrato de prata.

Provas em Papel Directo (gelatina ou colódio)

É um processo fotográfico de três camadas. Sobre a barita (sulfato de bário utilizado em fotografia para melhorar o comportamento do papel) é colocada a camada de gelatina ou colódio, contendo grãos de prata fotolítica.

Provas em Papel de Revelação Baritado (gelatina/prata)

Deve-se ao tipo de prata utilizado (filamentar) o tom frio. O papel é exposto a uma pequena quantidade de luz (DOP - developing-out-papers), formando-se uma imagem latente só visível com a utilizaçao de revelador.


 
 
 

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Orgulhosamente criado por Manuel Moreira Braga

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